O trabalho analisa a trajetória de luta das quebradeiras de coco babaçu, mulheres extrativistas que atuam majoritariamente no Maranhão, mas também em outros estados do chamado “cinturão dos babaçuais”, como Piauí, Pará e Tocantins. A sobrevivência dessas mulheres está intrinsecamente vinculada ao extrativismo do coco, atividade que não apenas garante alimento e renda, mas também possibilita a produção de mais de sessenta subprodutos, preserva a biodiversidade e promove a transmissão intergeracional de saberes tradicionais. Historicamente, essas trabalhadoras foram impactadas pela concentração fundiária, pela grilagem de terras, pela expansão do agronegócio e pela invisibilidade institucional, fatores que resultaram em exclusão social, econômica e política. O fenômeno do chamado “coco preso” — quando os babaçuais foram cercados em propriedades privadas — simboliza a perda de territórios e modos de vida tradicionais, restringindo a autonomia das quebradeiras. Em resposta a essas formas de opressão, elas se organizaram politicamente, especialmente após a criação do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), em 1991. Esse movimento unificou pautas locais e se consolidou como importante instrumento de incidência em políticas públicas e espaços decisórios. Entre as conquistas alcançadas destacam-se a Lei do Babaçu Livre, que assegura o acesso às palmeiras mesmo em áreas privadas; a fundação da Cooperativa Interestadual das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (CIMQCB), que fortaleceu práticas de economia solidária; e a criação do Fundo Babaçu, experiência de microcrédito comunitário voltada à autonomia econômica feminina e ao fortalecimento organizacional. O protagonismo político das quebradeiras ultrapassou fronteiras nacionais, como evidenciado pela campanha internacional Encantos da Resistência, que denunciou violações de direitos e valorizou os conhecimentos tradicionais associados ao babaçu. Apesar dos avanços, persistem desafios estruturais, como a violência fundiária, a pressão do agronegócio e a burocracia no acesso a políticas públicas. Ainda assim, a experiência dessas mulheres demonstra que a resistência, ancorada na ancestralidade, na coletividade e na justiça socioambiental, constitui alternativa concreta ao modelo hegemônico de desenvolvimento rural no Brasil, configurando exemplo de protagonismo feminino na defesa da terra, da cultura e da sustentabilidade.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.