• Resumo

    O desafio de ser gestora esportiva no Brasil

    Data de publicação: 05/12/2025

    A presença feminina no esporte tem sido objeto de crescente interesse acadêmico, destacando-se tanto pelas conquistas atléticas quanto pelos desafios persistentes em espaços de poder e decisão. Historicamente, as mulheres enfrentaram resistência à sua inserção no esporte, visto como território masculino. No Brasil, essa participação remonta ao século XIX, mas ganhou maior visibilidade a partir do século XX, com marcos como a participação de Maria Lenk nos Jogos Olímpicos de 1932. Desde então, inúmeras atletas brasileiras vêm desafiando estereótipos e obtendo conquistas expressivas, como o ouro olímpico de Jacqueline Silva e Sandra Pires no vôlei de praia (1996) e a histórica participação majoritária e vitoriosa das mulheres na delegação brasileira em Paris 2024, quando conquistaram 60% das medalhas do país. Apesar desses avanços no âmbito competitivo, a presença feminina em cargos de liderança e gestão no esporte permanece limitada. Estudos evidenciam barreiras relacionadas à desigualdade de oportunidades, preconceito, invisibilidade midiática e dificuldades de conciliar vida pessoal e profissional. Essas barreiras tornam-se ainda mais evidentes na profissão de treinadora, tradicionalmente dominada por homens, como apontam pesquisas em modalidades como futebol, handebol, esportes de raquete e coletivos em geral. O presente trabalho teve como objetivo analisar a presença de mulheres em cargos de gestão esportiva, especificamente nos postos de presidência e vice-presidência das 34 Confederações Esportivas Olímpicas Brasileiras vinculadas ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB). A pesquisa foi de caráter quantitativo, exploratório e descritivo, baseada em documentos e informações disponibilizadas nos sites oficiais das confederações. A coleta de dados ocorreu entre março e abril de 2025, sendo posteriormente organizada em planilha para análise. Os resultados revelaram um cenário de baixa representatividade: apenas uma confederação possui atualmente uma mulher na presidência, enquanto três contam com mulheres na vice-presidência. Esses números confirmam a predominância masculina nos cargos de maior poder decisório, inclusive em modalidades tradicionalmente associadas ao protagonismo feminino nos pódios, como a ginástica. Tal panorama reforça o fenômeno descrito pela literatura como “teto de vidro”, uma barreira invisível que impede mulheres de ascenderem a posições de liderança, mesmo quando qualificadas. As justificativas para a baixa inserção feminina em cargos de gestão incluem fatores estruturais, culturais e institucionais: falta de reconhecimento, preconceito quanto à competência, desequilíbrio entre demandas pessoais e profissionais e ausência de políticas de equidade. Por outro lado, evidências internacionais e nacionais demonstram que a inclusão de mulheres em cargos de decisão traz benefícios, como maior visibilidade para o esporte feminino, ampliação da participação de atletas, torcedoras e profissionais, além do fortalecimento de políticas públicas voltadas para igualdade de gênero. Um exemplo recente é a eleição de Kirsty Coventry, ex-nadadora olímpica, como presidente do Comitê Olímpico Internacional em 2025, sendo a primeira mulher e a primeira africana a ocupar esse posto na história da instituição. Os dados obtidos reafirmam que, embora a participação feminina no esporte brasileiro tenha avançado significativamente no campo competitivo, a presença em cargos de gestão ainda é mínima. A ausência de mulheres em posições de liderança revela um espaço historicamente marcado pela dominação masculina, que persiste tanto no âmbito político-administrativo quanto técnico. Essa realidade reproduz desigualdades e limita o potencial transformador do esporte como espaço de inclusão e justiça social. Conclui-se que o processo de inserção das mulheres no esporte, especialmente na gestão, é longo, permeado por adversidades e pela necessidade constante de resistência. A superação dessas barreiras exige não apenas a resiliência individual das gestoras que hoje ocupam tais funções, mas também mudanças estruturais sustentadas por políticas públicas e iniciativas institucionais que promovam a equidade de gênero. É fundamental que a discussão sobre a participação feminina no esporte transcenda o campo competitivo e alcance os espaços de poder e decisão, contribuindo para a desconstrução de estereótipos, a promoção de igualdade e a construção de um ambiente esportivo mais justo e inclusivo.

Anais do Seminário de Iniciação Científica da Universidade do Vale do Itajaí

Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.

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