• Resumo

    Diversidade funcional da ictiofauna de riachos costeiros

    Data de publicação: 05/12/2025

    Riachos costeiros representam ecossistemas fundamentais para a manutenção da biodiversidade aquática, provisão de água em quantidade e qualidades adequadas e oferta de serviços ecossistêmicos. Contudo, esses ambientes sofrem pressões antrópicas intensas em regiões densamente povoadas, incluindo poluição, retirada excessiva de água, barramentos e soterramento, o que compromete a integridade ecológica e a conectividade com a bacia de drenagem. Nesse contexto, a diversidade funcional da ictiofauna configura-se como uma ferramenta relevante para diagnosticar a influência das alterações ambientais sobre as comunidades aquáticas. O presente estudo analisou a diversidade funcional de peixes em seis riachos da bacia hidrográfica do rio Itajaí-Mirim, em Santa Catarina, sendo três trechos classificados como preservados e três como degradados. As amostragens foram realizadas em outubro de 2024, com captura de peixes por pesca elétrica, identificação taxonômica, registro biométrico e análise de traços funcionais morfológicos e tróficos. As condições limnológicas locais foram avaliadas por meio de variáveis físico-químicas (oxigênio dissolvido, pH, condutividade) e físicas (largura, profundidade), enquanto a diversidade funcional foi mensurada a partir dos índices de riqueza (FRic), uniformidade (FEve) e divergência (FDiv). A análise estatística incluiu ordenações multivariadas, testes não paramétricos e modelos lineares para examinar a relação entre a diversidade funcional e as características ambientais. Foram coletados 162 indivíduos, distribuídos em 3 ordens, 10 famílias e 15 espécies. Os resultados indicaram que riachos preservados apresentaram maior divergência funcional e composição de espécies distinta em relação aos degradados evidenciada pela presença de bagres em ambientes preservados e a sua ausência nos degradados. Nos trechos degradados, predominaram espécies generalistas e tolerantes, como lambaris e cascudos de pequeno porte, que apresentam elevada capacidade de adaptação a ambientes homogêneos e com baixa complexidade estrutural. As espécies apresentaram morfologia fusiforme, corpo pequeno, robusto e comprimido lateralmente. Já em riachos preservados, foram registradas espécies com corpos mais achatados lateralmente, dorsoventralmente e alongados. Riachos com maior divergência funcional foram aqueles com maior temperatura, sinuosidade, disponibilidade de oxigênio, complexidade do substrato e conservação da vegetação ripária, enquanto a riqueza e regularidade funcional não apresentaram variação significativa em função das condições locais. Apesar disso, a composição funcional revelou-se sensível às alterações ambientais, refletindo a homogeneização dos habitats e a perda de funções ecológicas em riachos degradados. Tais resultados reforçam a importância da manutenção da vegetação ripária e da heterogeneidade do habitat como estratégias para conservação da ictiofauna e dos processos ecológicos em riachos costeiros. Este estudo contribui para a compreensão do papel das condições ambientais na determinação da diversidade funcional e evidencia a necessidade de políticas de manejo que garantam a integridade de pequenos cursos d’água, frequentemente negligenciados, mas essenciais para a conservação da biodiversidade regional e para a provisão de serviços ecossistêmicos.

Anais do Seminário de Iniciação Científica da Universidade do Vale do Itajaí

Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.

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