• Resumo

    Seletividade alimentar no autismo infantil: uma revisão narrativa

    Data de publicação: 05/12/2025

    A seletividade alimentar é um comportamento comum em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), caracterizado pela recusa persistente de diversos alimentos e pela manutenção de preferências alimentares restritas, o que pode levar a deficiências nutricionais significativas e complicações de saúde que impactam negativamente o desenvolvimento físico, cognitivo e social. Este estudo de revisão narrativa aborda a seletividade alimentar em crianças com TEA, destacando causas, consequências e estratégias de intervenção descritas na literatura. A metodologia consistiu em uma investigação detalhada nas bases de dados PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), resultando na seleção de 19 artigos para análise crítica. Os achados evidenciam que a seletividade alimentar está fortemente associada a fatores como hipersensibilidade sensorial, dificuldades relacionadas a texturas, sabores e odores, rigidez comportamental, neofobia alimentar e experiências negativas prévias com a alimentação. Como consequência, observa-se a prevalência de dietas pobres em frutas, vegetais e proteínas, associadas ao consumo excessivo de carboidratos simples e ultraprocessados. Esse padrão alimentar contribui para o desenvolvimento de deficiências de micronutrientes essenciais, como vitaminas A, B12, D, ferro e ácido fólico, além de provocar desequilíbrios energéticos que podem se manifestar tanto como desnutrição quanto como sobrepeso ou obesidade. Os estudos também apontam que crianças com TEA apresentam maior prevalência de distúrbios gastrointestinais, como constipação, refluxo e dores abdominais, condições frequentemente associadas a alterações da microbiota intestinal, que podem agravar a seletividade e comprometer ainda mais a absorção de nutrientes. Nesse contexto, a compreensão da relação entre seletividade alimentar, alterações metabólicas e predisposição genética, como polimorfismos que afetam o metabolismo do folato e das vitaminas do complexo B, torna-se essencial para direcionar estratégias terapêuticas. Entre as medidas de intervenção destacam-se a suplementação nutricional específica, a introdução gradual e planejada de novos alimentos, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que utilizam reforço positivo e dessensibilização sensorial como ferramentas para ampliar a aceitação alimentar. A atuação interdisciplinar é apontada como fundamental, reunindo vários profissionais, com intuito de elaborar planos individualizados que considerem as particularidades sensoriais e comportamentais de cada criança. Conclui-se que a seletividade alimentar em crianças com TEA constitui um desafio complexo e multifatorial, que exige estratégias terapêuticas integradas, contínuas e personalizadas, capazes de prevenir deficiências nutricionais, favorecer o bem-estar e promover um desenvolvimento saudável. Ainda assim, ressalta-se a necessidade de mais estudos que aprofundem a relação entre seletividade alimentar, fatores ambientais, bem como o desenvolvimento de intervenções nutricionais inovadoras que possam ampliar a aceitação alimentar e garantir melhor qualidade de vida às crianças e suas famílias.

Anais do Seminário de Iniciação Científica da Universidade do Vale do Itajaí

Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.

Access journal