A urolitíase, ou pedra nos rins, configura-se como um problema de saúde pública mundial por ser uma das doenças mais comuns do trato urinário, acometendo entre 2% e 20% da população global e apresentando taxas de recorrência de 30% a 50% em cinco anos. Trata-se de uma condição multifatorial associada a fatores de risco como histórico familiar, obesidade, diabetes, sexo, idade e origem racial, sendo considerada fator predisponente para o desenvolvimento de hipertensão, doenças cardiovasculares e complicações renais graves. Atualmente, os tratamentos disponíveis não apresentam eficácia satisfatória para a cura ou prevenção da doença, uma vez que os medicamentos atuam principalmente no alívio da dor e dos sintomas, sem interferir de forma efetiva na dissolução ou eliminação dos cálculos. Diante disso, a busca por novas substâncias com atividade antiurolítica constitui uma necessidade clínica relevante. O presente estudo teve como objetivo avaliar a atividade antiurolítica da fração aquosa obtida das folhas de Calophyllum brasiliense em modelo experimental de cálculo urinário in vivo. Foram utilizados ratos machos da linhagem Wistar, distribuídos em grupos experimentais. O grupo naive recebeu apenas água, enquanto os demais grupos foram submetidos à indução de urolitíase por adição de etilenoglicol a 1% e cloreto de amônio a 1% na água de beber durante dez dias. O grupo veículo não recebeu tratamento, o grupo tratado com hidroclorotiazida (5 mg/kg) serviu como controle positivo, e os grupos tratados com C. brasiliense receberam doses orais de 10, 30 e 100 mg/kg do extrato. Foram avaliados peso corporal, mortalidade, parâmetros urinários, bioquímicos séricos, além de análises histológicas, oxidativas e inflamatórias no tecido renal. Os resultados demonstraram que os grupos tratados com o extrato nas doses de 10 e 30 mg/kg apresentaram 100% de sobrevivência semelhante ao grupo naive, enquanto os grupos 100 mg/kg e hidroclorotiazida apresentaram mortalidade semelhante ao veículo. Todos os grupos submetidos à indução apresentaram perda de peso em relação ao naive. O tratamento com 30 mg/kg promoveu aumento significativo do volume urinário, sem alterações no pH, condutividade ou níveis urinários de sódio e potássio. Quanto à atividade antiurolítica, observou-se redução significativa do número total de cristais, bem como das formas mono e dihidratadas, nos grupos tratados com hidroclorotiazida e com o extrato em todas as doses, quando comparados ao veículo. No peso relativo dos órgãos, apenas a dose de 100 mg/kg provocou aumento significativo no peso renal. Os exames séricos revelaram que a indução promoveu aumento de ureia, fosfato e creatinina, alterações normalizadas pela hidroclorotiazida e pelo tratamento com C. brasiliense na dose de 30 mg/kg. Nos marcadores de estresse oxidativo, verificou-se que o veículo promoveu aumento de GSH e SOD, enquanto reduziu a atividade de GST. O tratamento com C. brasiliense modulou esses parâmetros, promovendo redução de GSH e aumento da atividade de GST na dose de 30 mg/kg, além de reduzir significativamente os níveis de LOOH em todas as doses. Nos parâmetros inflamatórios, constatou-se que a atividade da MPO foi significativamente reduzida pelos tratamentos de 10 e 30 mg/kg, enquanto a NAG permaneceu elevada em todos os grupos e os níveis de nitrito não apresentaram alterações relevantes. Os resultados indicam que o extrato aquoso de Calophyllum brasiliense apresenta efeito antiurolítico significativo, evidenciado pela atividade diurética, pela redução da cristalúria e pela melhora dos parâmetros bioquímicos séricos, além de modular marcadores de estresse oxidativo e inflamação no tecido renal. Esses achados sustentam o potencial terapêutico da espécie no manejo da urolitíase e sugerem que seus efeitos estejam relacionados à promoção da diurese e à modulação de processos oxidativos e inflamatórios, representando recurso promissor para novas abordagens terapêuticas nessa condição.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.