As cardiopatias congênitas representam uma das principais causas de morbidade na infância, e seu diagnóstico precoce é essencial para o direcionamento terapêutico adequado e para a prevenção de complicações. O eletrocardiograma (ECG) configura-se como ferramenta complementar de grande relevância na triagem de crianças encaminhadas por suspeita de cardiopatia. O manejo dessas condições pode envolver tratamento exclusivamente clínico ou intervenções invasivas, como cateterismo ou cirurgia. O objetivo do presente estudo compreende descrever as alterações eletrocardiográficas observadas na primeira consulta com especialista de crianças encaminhadas por suspeita de cardiopatia e que necessitaram de tratamento invasivo, bem como analisar a prevalência de procedimentos invasivos, o tempo de encaminhamento e os diagnósticos mais frequentes em uma cidade da região Sul do Brasil, no período de seis anos. Trata-se de estudo observacional, descritivo e retrospectivo, realizado de 2014 a 2019, com análise de 1.529 prontuários de pacientes atendidos pela rede pública via Sistema Único de Saúde (SUS). Fizeram parte da amostra todos os pacientes de 0 a 15 anos incompletos com achado suspeito de cardiopatia identificado por médico assistente. Foram analisados dados demográficos, clínicos, eletrocardiográficos, diagnósticos, tempos de encaminhamento e tratamento, procedimentos realizados e desfechos clínicos. Este estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer CAAE 4.678.788. A prevalência de tratamento invasivo foi de 1,44%. O sopro cardíaco esteve presente em 95,5% dos pacientes que necessitaram intervenção. Entre os 22 pacientes submetidos a tratamento invasivo, 63,6% apresentaram alterações no ECG de primeira consulta, sendo os achados mais frequentes o bloqueio incompleto do ramo direito (BIRD) em 22,7%, sobrecarga ventricular esquerda (SVE) em 18,1% e sobrecarga ventricular direita (SVD) em 18,1%. Em 36,3% dos casos o ECG foi normal. As cardiopatias acianóticas mais prevalentes foram comunicação interatrial (CIA – 27,2%), coarctação de aorta (CoAo – 18,2%) e persistência do canal arterial (PCA – 18,2%), enquanto a tetralogia de Fallot foi a cardiopatia cianótica mais frequente. Vinte pacientes foram submetidos a cirurgia, um a cateterismo e um a estudo eletrofisiológico. A mediana do tempo entre a indicação do procedimento e sua realização foi de 82,95 dias (2,76 meses). Dezesseis pacientes evoluíram sem lesões residuais e houve apenas um óbito. Conclui-se que entre os pacientes encaminhados ao especialista por suspeita de cardiopatia, 1,44% necessitaram de tratamento invasivo para correção de cardiopatia congênita. A CIA foi a patologia mais prevalente e o sopro o achado clínico mais frequente de encaminhamento. O BIRD foi a alteração eletrocardiográfica mais comum, sendo que a maioria apresentou ECG pré-operatório alterado. Esses resultados contribuem para a compreensão do perfil assistencial e podem auxiliar no aperfeiçoamento dos fluxos de cuidado em cardiologia pediátrica.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.