Plantas medicinais e seus metabólitos secundários representam uma fonte importante de compostos bioativos com potencial terapêutico, sendo amplamente estudadas pela farmacologia moderna. Entre esses compostos, destacam-se os fitocanabinoides da Cannabis sativa, que vêm demonstrando efeitos promissores no tratamento de desordens neuropsiquiátricas. O canabidiol (CBD), principal composto não psicoativo da espécie, apresenta propriedades farmacológicas relevantes, incluindo atividades ansiolítica, anticonvulsivante, anti-inflamatória e neuroprotetora, mas seu uso ainda é limitado por barreiras legais, estigmas sociais e restrições regulatórias. Recentemente, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram a presença de canabinoides, principalmente na forma ácida como o ácido canabidiolítico (CBDA) e ácido tetrahidrocanabinólico (THCA) no extrato das folhas de Trema micrantha (L.) Blume, espécie nativa brasileira da família Cannabaceae, o que pode viabilizar aplicações terapêuticas semelhantes sem os entraves socioculturais e jurídicos associados à Cannabis. A espécie já possui uso etnobotânico consolidado na medicina popular, sendo empregada para o tratamento doenças de pele, reumatismo e como hipoglicemiante. Entretanto, apesar do seu potencial, os estudos toxicológicos disponíveis são limitados, sendo a maioria deles relatos de intoxicações em diferentes espécies animais (bovinos, equinos e caprinos), ressaltando a necessidade de estudos toxicológicos para viabilizar seu uso terapêutico seguro. A avaliação da mutagenicidade de plantas medicinais é essencial para garantir sua segurança, prevenindo riscos genotóxicos. O teste de micronúcleo é amplamente utilizado por detectar danos cromossômicos e mutações, fornecendo evidências sobre o potencial tóxico, podendo embasar o uso seguro desses compostos. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o potencial mutagênico do extrato metanólico das folhas de Trema micrantha por meio do teste do micronúcleo em camundongos (OECD 474). Para isso, foram utilizados 30 animais, sendo 15 machos e 15 fêmeas, distribuídos igualmente em três grupos experimentais. O grupo controle negativo recebeu solução salina, enquanto o grupo controle positivo foi tratado com metanossulfonato de metila (MMS, 50 mg/kg i.p.), reconhecido agente mutagênico. O grupo de tratamento recebeu uma dose de 2000 mg/kg do extrato metanólico de T. micranta via oral. A genotoxicidade foi avaliada a partir da frequência de ocorrência de micronúcleos em 1000 eritrócitos, obtidos do lavado da medula óssea dos animais, preparados em lâminas e corados com Giemsa, sendo a análise realizada em microscópio óptico com aumento de 1000x. Os resultados obtidos demonstraram que o extrato metanólico das folhas de T. micrantha não promoveu aumento significativo na frequência de micronúcleos, com valores Média ± DP de 5,0 ± 1,0 SD em machos e 5,66 ± 0,57 em fêmeas, semelhantes ao controle negativo (4,3 ± 0,57 e 4,4 ± 1,14 respectivamente). Já o controle positivo (MMS) elevou significativamente os micronúcleos (10,20 ± 1,78 em machos e 10,6 ± 2,08 em fêmeas), confirmando a validade do ensaio segundo a OECD 474. Esses achados contribuem para a construção de evidências científicas mais consistentes sobre a toxicidade da espécie, reforçando a importância de estudos toxicológicos atualizados que possam subsidiar sua validação farmacológica.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.