Distúrbios gastrointestinais são condições que afetam digestão, absorção e excreção, podendo ser agudos ou crônicos. Tais doenças representam uma das principais causas de morbimortalidade pediátrica mundial. Estima-se que 24,7% das crianças de 0 a 3 anos e 25% das de 4 a 18 anos apresentem algum distúrbio gastrointestinal. Mesmo em países desenvolvidos, como a Noruega, onde há saneamento e saúde universais, quadros como gastroenterites, colites e síndromes funcionais intestinais persistem, exigindo atenção a fatores como dieta, estilo de vida, contaminação hídrica e vulnerabilidades regionais. Este estudo retrospectivo, de natureza quantitativa, analisou dados de crianças e adolescentes (0 a 18 anos) atendidos no sistema público de saúde de uma cidade norueguesa litorânea, entre abril de 2024 e abril de 2025, totalizando 677 diagnósticos agrupados em quatro categorias: doenças infecciosas, distúrbios funcionais, doenças inflamatórias intestinais (DII) e sintomas gastrointestinais diversos. Na categoria infecciosa, foram identificados 58 casos, predominando gastroenterite e colite de causa não especificada (32), seguidas de diarreia e gastroenterite presumivelmente infecciosas (9). Enterites virais, como rotavírus e adenovírus, somaram 8 registros, e infecções bacterianas por Campylobacter e Clostridium difficile, 9 casos. Os distúrbios funcionais somaram 213 diagnósticos, com destaque para constipação funcional (183), síndrome do intestino irritável (24) e diarreia funcional (6). Já as DII constituíram o grupo mais prevalente, com 214 casos, sendo 99 de doença de Crohn e 115 de colite ulcerativa. Os sintomas diversos abrangeram 192 ocorrências: náuseas e vômitos (91) e dor abdominal em diferentes formas (101). Os resultados evidenciam predominância de distúrbios funcionais e inflamatórios, mesmo em um país com elevado padrão de vida. A prevalência de constipação, síndrome do intestino irritável e DII sugere influência de fatores como alimentação industrializada, baixa ingestão de fibras, sedentarismo infantil, além de estresse e ansiedade. A menor ocorrência de infecções virais e bacterianas confirma a eficácia das políticas de saneamento, sem excluir riscos ocasionais. O acesso universal à saúde contribui para o diagnóstico precoce e acompanhamento clínico, reforçando a relevância de sistemas públicos robustos. Contudo, a elevada incidência de quadros funcionais e inflamatórios indica que variáveis ambientais e comportamentais continuam a impactar a saúde infantil. Assim, mesmo em contextos de alta qualidade de vida, a saúde digestiva pediátrica requer atenção contínua. Estratégias preventivas e educativas voltadas a alimentação equilibrada, promoção da atividade física e cuidados com saúde mental são fundamentais para reduzir impactos. Os achados ressaltam a importância da integração entre políticas públicas, educação em saúde e monitoramento epidemiológico, reforçando que determinantes sociais influenciam diretamente a prevalência de distúrbios gastrointestinais em crianças e adolescentes.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.