• Resumo

    Construção de um bundle voltado para enfermeiros com foco nos cuidados intraoperatórios de pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio

    Data de publicação: 05/12/2025

    Resumo: Os bundles configuram-se como tecnologias assistenciais que têm como propósito organizar, sequenciar e garantir a execução consistente e segura dos processos de trabalho em saúde. No contexto da cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM), caracterizada pela alta complexidade e pelo elevado risco de complicações, a aplicação desse recurso possibilita uma assistência de enfermagem mais eficaz nos períodos pré, intra e pós-operatório, assegurando melhores resultados tanto para o paciente quanto para a equipe multiprofissional. Essa abordagem contempla o papel do enfermeiro circulante, do perfusionista e de toda a equipe envolvida, que devem manter vigilância constante sobre os sinais clínicos e a estabilidade do procedimento, prevenindo intercorrências. Este estudo metodológico foi estruturado em duas etapas: a primeira, de análise da literatura nacional e internacional, realizada nas bases LILACS, BDENF e MEDLINE, a fim de identificar evidências sobre boas práticas de enfermagem durante o período intraoperatório da CRM; e a segunda, de construção de um bundle dividido em três áreas de atuação: preparação e segurança do paciente, gestão intraoperatória e suporte/monitoramento pós-operatório. A revisão integrativa resultou na inclusão de 25 artigos, dos quais emergiram quatro eixos centrais: atuação do enfermeiro perfusionista, precauções de segurança e comunicação da equipe, monitoramento contínuo do paciente e apoio emocional. A partir desses achados foram elaboradas cinco intervenções prioritárias que abrangem desde o preparo pré-operatório até o apoio psicossocial ao paciente e sua família. Conclui-se que a utilização de bundles favorece a padronização das condutas, fortalece a Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP) e contribui para a promoção da segurança do paciente em procedimentos cardíacos complexos.
    Introdução: O uso de tecnologias como ferramenta de apoio para a construção de métodos que facilitem e orientem o processo de trabalho dos profissionais é essencial no mundo atual onde o intuito é garantir a segurança do paciente e uma assistência especializada. Os bundles emergem como uma opção de tecnologia leve-dura que combina saberes estruturados e conhecimento técnico-científico com o processo de trabalho e as relações sociais (MOURA et al., 2025). O conceito de ‘’bundles’’ foi desenvolvido pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI) constatando que uma sequência de tarefas desenvolvida de forma organizada, sequencial e consistente produzia melhores resultados na prevenção de riscos e complicações na saúde do paciente (FICAGNA et al., 2020). Um bundle geralmente é composto por três a cinco intervenções que, aplicadas em conjunto, visam garantir maior segurança e eficácia nos procedimentos assistenciais (PRONOVOST et al., 2006).. No âmbito da enfermagem, os bundles devem ser aplicados para garantir a segurança do paciente e a eficácia da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). Um exemplo é a cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM), também conhecida como ponte de safena, considerada um procedimento de grande porte que exige a utilização integrada de tecnologias duras e leve-duras para sua execução (LIU et al., 2021). Estes pacotes de intervenção, cuidado e observação dos processos garantem a eficácia da sistematização de enfermagem perioperatória (SAEP). O protocolo de cirurgia segura, instaurado pelo Ministério da Saúde em 2013 e o Programa Nacional de Segurança do Paciente reforçaram a importância e a implementação de processos em instituições de saúde que garantam o bem-estar do paciente, evitando erros, imprevistos e diminuição de riscos e sequelas que podem ocorrer após procedimentos invasivos (BRASIL, 2013c). Por se tratar de um procedimento altamente invasivo e que se apresentar falhas ou intercorrências não calculadas ou prevenidas podem gerar danos irreversíveis ao paciente e a sua rede familiar, logo, a necessidade do pacote de medidas pré, trans, intra e pós operatório é tão urgente em procedimentos como estes (COVALSKI et al., 2021). Sendo assim esse estudo possui o objetivo de desenvolver um bundle que garanta a eficácia no andamento da cirurgia de revascularização do miocárdio através do profissional enfermeiro circulante e hemodinamicista através de práticas, monitorização, análise, intervenções e comunicação com a equipe multiprofissional, o paciente e sua família.
    Método: A fim de construir um bundle direcionado à prática de enfermagem em cirurgias de revascularização do miocárdio, definiu-se um percurso metodológico estruturado em duas etapas complementares. Trata-se de um estudo metodológico dividido em duas etapas. A primeira consistiu em uma revisão integrativa da literatura, visando reunir evidências nacionais e internacionais sobre boas práticas de enfermagem aplicáveis ao período intraoperatório da CRM. Para a elaboração da questão norteadora, utilizou-se a estratégia PICO: P (pacientes submetidos à CRM), I (boas práticas de enfermagem), C (comparação entre intervenções) e O (resultados assistenciais). A busca foi realizada nas bases LILACS, BDENF e MEDLINE, com os descritores “Protocolos de Enfermagem”, “Guias de Prática Clínica”, “Cirurgias Cardíacas” e “Boas Práticas em Saúde”. Foram incluídos artigos publicados entre 2004 e 2024, disponíveis em português, inglês ou espanhol, que abordassem intervenções de enfermagem relacionadas ao cuidado intraoperatório na CRM. Excluíram-se estudos com população pediátrica, duplicados ou que não respondessem à questão norteadora. No total, foram encontrados 5457 registros, dos quais 25 compuseram a amostra final após leitura crítica e aplicação dos critérios de inclusão. A análise foi realizada por meio da técnica de análise temática proposta por Bardin (2016), organizada em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. As unidades de registro foram frases e expressões relacionadas ao cuidado de enfermagem intraoperatório. A categorização resultou em quatro eixos principais que subsidiaram a construção do bundle: enfermeiro perfusionista, precauções de segurança e comunicação da equipe, monitoramento contínuo do paciente e apoio emocional. A segunda etapa correspondeu à elaboração do bundle, no qual foram selecionadas as intervenções de maior impacto identificadas na revisão integrativa. Essas intervenções foram sistematizadas em três áreas de atuação: preparação e segurança do paciente, gestão intraoperatória e suporte e monitoramento pós-operatório. O estudo não envolveu coleta de dados primários, sendo dispensado de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.
    Resultado e Discussão: Ao final da pesquisa, exclusão dos descartados e análise dos resultados, foram analisados 25 artigos. A análise permitiu identificar que boas práticas de assistência da enfermagem, somados com habilidades técnicas, comunicação eficaz e conhecimento dos processos referente aos procedimentos executados garantem um processo seguro ao paciente e ao procedimento que está sendo executado. Por fim, foram identificados quatro direcionamentos na prática assistencial: o enfermeiro perfusionista e cuidados sistematizados, precauções de segurança intraoperatória e comunicação da equipe, avaliação e monitoramento de pacientes e cuidado abrangente e apoio emocional. Esse resultado converge com Liu et al. (2021), que destaca o papel do enfermeiro perfusionista como fundamental na manutenção da estabilidade hemodinâmica, reforçando a necessidade de protocolos sistematizados para a segurança da circulação extracorpórea. Sendo assim, a conferência da máquina de modo a garantir sua total funcionalidade e listas de verificação para garantir que todas as precauções de segurança sejam cumpridas (GOMES et al., 2024). Quanto ao precauções de segurança intraoperatória e comunicação da equipe, é de extrema importância a monitorização dos sinais que indicam uma deterioração hemodinâmica do paciente, cabendo ao enfermeiro identificar e comunicar a equipe multiprofissional do local (médicos cirurgiões, anestesistas, perfusionista e instrumentador) para que uma decisão seja tomada prontamente e minimize os riscos operatórios ou na fase pós-operatória do paciente (BADAWY et al., 2022). Esse achado dialoga com Gomes et al. (2024), que enfatiza a importância da monitorização multiparamétrica para antecipar instabilidades e intervir precocemente, evitando complicações intraoperatórias graves. Quando notado, cabe ao enfermeiro a tomada de decisão para ajuste medicamentosos ou regulação da máquina de circulação extracorpórea. E no cuidado abrangente e apoio emocional, aqui entra a visão e cuidado holístico que a enfermagem precisa ter com o paciente e com sua família. A comunicação com os familiares a fim de acalmar os ânimos, aliviar o estresse e garantir o bem estar também é da equipe de enfermagem e fazem parte do processo de trabalho da enfermagem e para o bom andamento da cirurgia. No pós, os enfermeiros precisam estar cientes da caracterização da dor, cuidados com drenos e conforto do paciente, garantindo uma recuperação rápida e agradável, novamente a comunicação efetiva com a equipe multiprofissional se faz necessário, para que em conjunto esse objetivo seja alcançado.
    A organização do bundle destacou cinco intervenções prioritárias sob responsabilidade da equipe de enfermagem, fundamentais para o sucesso operatório, a segurança do paciente e a redução dos riscos cirúrgicos. A preparação pré-operatória busca prevenir intercorrências durante o intraoperatório por meio da aplicação do checklist de cirurgia segura, assegurando paciente, procedimento e local corretos. Inclui ainda a monitorização adequada dos parâmetros vitais, o posicionamento correto na mesa cirúrgica para conforto e prevenção de lesões por pressão, especialmente em procedimentos prolongados como a cirurgia de revascularização do miocárdio, além da revisão de equipamentos, exames de imagem e planos terapêuticos. O gerenciamento do perfusionista e da circulação extracorpórea envolve a checagem rigorosa da máquina de CEC, a presença do profissional desde a indução anestésica e a garantia de perfusão adequada dos órgãos vitais, com detecção precoce de arritmias ou instabilidades hemodinâmicas, devidamente registradas para intervenção imediata. A comunicação efetiva entre os membros da equipe, por meio de ferramentas como o SBAR, reforça a troca segura de informações, associada à revisão de protocolos e à discussão de complicações intra e pós-operatórias. Já o monitoramento contínuo e a avaliação pós-operatória asseguram a manutenção da homeostase, com vigilância sobre sinais vitais, balanço hídrico e respostas rápidas a alterações, garantindo intervenções oportunas. Por fim, o apoio emocional e o cuidado integral contemplam suporte psicológico e físico ao paciente e à família, com práticas analgésicas e abordagem humanizada que respeita crenças e singularidades, favorecendo uma recuperação mais segura e acolhedora. A sistematização e suas intervenções no plano de cuidado do paciente garantem sua adesão, confiança nos profissionais e adequada recuperação. O uso de bundles em procedimentos cirúrgicos como o de CRM ajudam a garantir a segurança do paciente, do processo e da recuperação. Apesar dessas limitações, os achados reforçam a importância da supervisão e coordenação das atividades assistenciais pelo enfermeiro, da capacitação contínua da equipe e da adesão rigorosa a protocolos de segurança, garantindo melhores desfechos clínicos no perioperatório de CRM.

Anais do Seminário de Iniciação Científica da Universidade do Vale do Itajaí

Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.

Access journal