A era digital tem proporcionado transformações significativas nas práticas acadêmicas e de saúde pública. No contexto do Projeto FeminaGlobal — uma cooperação internacional entre a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI-Brasil) e a Western Norway University of Applied Sciences (HVL-Noruega) — foi concebido e desenvolvido um modelo de linguagem baseado em inteligência artificial (IA), denominado FeminaGlobal GPT. Este modelo visa apoiar a produção científica, a orientação acadêmica e a promoção de equidade em saúde global materno-infantil, com foco na formação de estudantes e docentes envolvidos em intercâmbios acadêmicos e pesquisas colaborativas. A construção do FeminaGlobal GPT fundamentou-se em uma metodologia interdisciplinar, qualitativa e aplicada, baseada em processos de design centrado no usuário, análise documental, engenharia de prompt e curadoria de conhecimento. O desenvolvimento do modelo envolveu a seleção criteriosa de fontes científicas confiáveis, a formulação de instruções específicas com base em diretrizes éticas e acadêmicas, e a incorporação de princípios interculturais que respeitam a diversidade dos contextos brasileiro e norueguês. A ferramenta foi treinada para assumir a persona de um mentor acadêmico com perfil de PhD, capaz de fornecer suporte bilíngue (português e inglês), promover o pensamento crítico e atuar como agente facilitador no processo de ensino-aprendizagem. Entre os principais objetivos do FeminaGlobal GPT destacam-se: (1) apoiar a elaboração de pesquisas, artigos científicos e apresentações acadêmicas nas áreas de saúde materna, infantil e neonatal; (2) estimular o uso ético da IA na educação superior; (3) promover uma abordagem humanizada, acessível e baseada em evidências para estudantes e docentes; (4) integrar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 às atividades de ensino e pesquisa. O modelo também foi projetado para evitar práticas prejudiciais, como o plágio acadêmico, o uso de fontes não confiáveis e a reprodução de vieses culturais ou científicos. A experiência de desenvolvimento do GPT revelou a importância da escuta ativa das necessidades dos usuários, do respeito às normas de comunicação científica e da valorização da produção autoral como pilar do conhecimento. Durante a fase de testes, o modelo demonstrou capacidade de transformar conteúdos complexos em linguagem acessível, mantendo a precisão científica e respeitando a diversidade cultural dos públicos-alvo. Além disso, mostrou-se uma ferramenta valiosa para orientar estudantes em seus primeiros contatos com a produção acadêmica, especialmente em contextos de iniciação científica e internacionalização. A relevância científica e social desta iniciativa reside na inovação do uso da IA como ferramenta educativa e emancipatória, contribuindo para reduzir barreiras linguísticas, sociais e tecnológicas no acesso ao conhecimento. O FeminaGlobal GPT não substitui o papel do docente ou do pesquisador, mas potencializa sua atuação ao proporcionar suporte personalizado, contínuo e sensível às especificidades de gênero, território e vulnerabilidades. Representa também uma resposta propositiva aos desafios contemporâneos da ciência aberta, da equidade em saúde e da democratização do saber acadêmico. Ao trazer para o centro do debate a intersecção entre tecnologia, ciência e humanização, o projeto FeminaGlobal reafirma o compromisso com uma educação superior transformadora, colaborativa e socialmente responsável. A construção do GPT não é apenas um avanço técnico, mas um gesto político-pedagógico de inclusão, escuta e esperança.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.