Introdução. A Atenção Primária à Saúde (APS), considerada a porta de entrada do SUS, possui grande responsabilidade pela promoção, recuperação e prevenção de algumas das doenças mais prevalentes na população, e o acesso a medicamentos é peça fundamental para este processo. Nesse contexto, os transtornos mentais, como a depressão, estão entre as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que mais incapacitam e prejudicam a qualidade de vida. Os medicamentos antidepressivos possuem diversas indicações e são prescritos principalmente para o tratamento da depressão moderada e grave. Objetivo. Descrever os medicamentos antidepressivos dispensados na APS de Florianópolis e definir as Doses Diárias Definidas por 1.000 habitantes/dia (DDD/1000PD) desses medicamentos. Metodologia. Estudo retrospectivo transversal descritivo documental, de abordagem quantitativa, realizado mediante a análise dos dados secundários dos registros das dispensações de medicamentos antidepressivos na APS de Florianópolis, entre os anos de 2014 e 2017, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC, com o número do parecer 2.308.484. O modelo assistencial do município é centrado na APS, e cada centro de saúde do município conta com farmácia própria para a dispensação de medicamentos constantes na Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME), exceto os medicamentos presentes na Portaria nº 344/98, como os medicamentos antidepressivos, que são dispensados somente nas Farmácias de Referência Distrital, nas quais há a presença de pelo menos um farmacêutico. Foram selecionados os medicamentos antidepressivos padronizados nas três REMUME vigentes durante o período do estudo (publicadas em 2014, 2015 e 2017): amitriptilina, fluoxetina, nortriptilina e sertralina. Para conhecer o consumo total desses medicamentos utilizou-se a medida derivada da DDD, a DDD/1000PD. A DDD é uma unidade de medida muito utilizada em estudos de utilização de medicamentos, e em condições ideais, pode representar a prevalência de uso de um dado medicamento. Resultados. Durante o período do estudo, foram realizadas 245.703 dispensações de medicamentos antidepressivos, sendo que a proporção de usuários que retiraram esses medicamentos em relação ao total de usuários que retiraram qualquer outro medicamento foi de 9,8% (n=80.933). As porcentagens da dispensação dos medicamentos antidepressivos foram: fluoxetina (39,9%), sertralina (29,1%), amitriptilina (25,7%) e nortriptilina (3,8%). Em relação aos usuários, a maior parte pertencia a faixa etária de 51 a 60 anos, representando 24,1%, e o sexo feminino correspondeu a 74,6% do total. O consumo total dos medicamentos antidepressivos foi medido através dos cálculos da DDD/1.000PD: fluoxetina (11,8), sertralina (8,7), amitriptilina (3,1) e nortriptilina (0,4). Considerações finais. Um a cada 10 pacientes retirou pelo menos um medicamento antidepressivo na APS, sendo majoritariamente mulheres. Dentre os medicamentos antidepressivos disponibilizados pelo município, o mais consumido foi a fluoxetina. Em relação a DDD/1000PD, pode ser interpretado como se 11,8 doses de fluoxetina fossem consumidas por grupo de mil habitantes por dia. Esses dados quando transformados para porcentagem, e somadas todas as DDD/1000PD, tem-se que 2,4% da população recebeu algum medicamento antidepressivo todos os dias por ano. Este valor deve ser ainda maior, tendo em vista que o estudo analisou uma única via de acesso a esses medicamentos.

Palavras-chave: Antidepressive agents. Primary health care. Drug utilization. Pharmacoepidemiology.