Este estudo analisa a evolução dos indicadores ESG (ambiental, social e governança) de empresas brasileiras listadas na B3 no período de 2013 a 2023, a partir de uma abordagem quantitativa de caráter longitudinal, com base em painel balanceado de dados. O tema adquire relevância ao considerar que, nas últimas décadas, a sustentabilidade deixou de constituir um diferencial competitivo para se consolidar como elemento estruturante da estratégia corporativa global, sendo crescentemente internalizada pelas companhias nacionais em resposta a pressões regulatórias, de mercado e de stakeholders. A pesquisa parte da hipótese de que houve evolução positiva e estatisticamente significativa nos scores ESG de empresas brasileiras ao longo da última década, com dinâmicas distintas entre setores e entre países latino-americanos, e buscou preencher a lacuna existente na literatura nacional, que ainda carece de estudos longitudinais com granularidade temporal e setorial. A amostra final foi composta por 112 companhias com dados completos na base Refinitiv™ ESG Scores, representando aproximadamente 80% do valor de mercado agregado da B3 em 2023. Foram analisados os pilares ambiental, social e de governança, bem como o score agregado (Overall), construído a partir de cerca de 450 subindicadores que abrangem emissões de gases de efeito estufa, eficiência energética, gestão hídrica, resíduos, políticas climáticas, diversidade, inclusão, saúde, segurança no trabalho, responsabilidade social corporativa, composição de conselhos, auditorias, práticas de compliance e qualidade do disclosure financeiro. O tratamento estatístico incluiu análise descritiva, regressões lineares simples e múltiplas, testes de significância e correlação de Pearson, além de modelos com defasagens para capturar efeitos persistentes. Os resultados evidenciaram crescimento expressivo do score ESG agregado até 2016, seguido por período de estabilidade e oscilações conjunturais, com destaque para a evolução do pilar social após a pandemia da COVID-19, que apresentou forte impacto positivo e cuja retirada reduziu em 16,5% o poder explicativo do modelo de regressão. O componente ambiental também demonstrou relevância elevada, com a maior correlação com o score Overall (ρ = 0,809), enquanto a governança mostrou estabilidade e papel estruturante, corroborando sua função de sustentação das demais dimensões. A análise setorial revelou que setores regulados, como Utilidade Pública e Financeiro, obtiveram consistentemente maiores escores, enquanto setores cíclicos e de bens industriais exibiram maior volatilidade. Do ponto de vista geográfico, observou-se tendência de convergência entre países latino-americanos, com Brasil e Chile em posição mais madura e países como Uruguai e Venezuela apresentando avanços recentes a partir de bases mais baixas. Os testes econométricos reforçaram a significância estatística de todos os pilares e variáveis contextuais de setor e país, indicando que fatores regulatórios e institucionais exercem influência determinante sobre o desempenho ESG. Apesar de limitações como viés de sobrevivência e heterogeneidade no disclosure voluntário, a pesquisa contribui ao oferecer evidências inéditas sobre o amadurecimento das práticas ESG no Brasil em perspectiva temporal contínua, reforçando o entendimento de que sustentabilidade corporativa constitui processo cumulativo e interdependente, cujo avanço se associa a resiliência, legitimidade e criação de valor de longo prazo. Conclui-se que o desempenho ESG das empresas brasileiras evoluiu de maneira significativa entre 2013 e 2023, com centralidade crescente do pilar social no período pós-pandemia, e que a adoção de uma modelagem longitudinal robusta permite captar dinâmicas de transformação que permanecem invisíveis em análises de corte transversal, oferecendo subsídios valiosos para investidores, reguladores e gestores no aprimoramento de políticas e estratégias sustentáveis.Recomenda-se que estudos futuros aprofundem a relação entre ESG e desempenho financeiro, bem como explorem métricas sociais e ambientais ainda pouco mensuradas.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.