A crescente demanda por medicamentos fitoterápicos tem impulsionado o uso de insumos vegetais em farmácias magistrais, evidenciando fragilidades nos processos de qualificação de fornecedores e controle de autenticidade desses materiais. Considerando que a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 67/2007 isenta farmácias da obrigatoriedade de testar a autenticidade de insumos provenientes de fornecedores qualificados, este estudo teve como objetivo investigar, por meio de ensaios laboratoriais, a autenticidade da tintura de guaco (Mikania glomerata), uma das espécies medicinais mais utilizadas na prática magistral brasileira. Foram adquiridas seis amostras de tintura de guaco em farmácias magistrais do município de Itajaí-SC, as quais foram submetidas à análise de densidade relativa, resíduo seco, identificação de cumarina por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e quantificação do marcador químico por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). A presença de cumarina foi confirmada em todas as amostras por meio de comparação cromatográfica com padrão de referência em CCD. Os resultados obtidos por CLAE evidenciaram variações expressivas no teor de cumarina, oscilando entre 0,35% e 1,4%, em relação ao resíduo seco. Os valores de densidade relativa variaram entre 0,8974 g/mL e 0,9289 g/mL, enquanto o resíduo seco apresentou resultados de 1,0% a 2,2%, parâmetros compatíveis com os limites estabelecidos para tinturas hidroalcoólicas. Apesar disso, a ampla variação nos teores do marcador químico entre as amostras aponta para a ausência de padronização nos processos extrativos empregados pelos fornecedores desse insumo às farmácias, o que pode comprometer a reprodutibilidade e a eficácia terapêutica do fitoterápico. Os ensaios realizados demonstram que a rotulagem das preparações como “tintura de guaco” não assegura, por si só, a autenticidade e a equivalência entre os produtos manipulados. Conclui-se que a análise laboratorial é uma ferramenta essencial para validar a identidade química de preparações vegetais manipuladas, sendo fundamental a adoção de critérios mais rigorosos de controle de qualidade no contexto magistral, a fim de garantir segurança, padronização e eficácia terapêutica aos usuários de fitoterápicos.
Esta publicação expõe uma parte considerável do que é feito anualmente em pesquisa na UNIVALI e por meio da qual esperamos compartilhar os conhecimentos aqui produzidos, possibilitando a comunicação entre os pesquisadores de nossa e de outras instituições.