Objetivo: O presente estudo tem por objetivo analisar os sentidos atribuídos ao trabalho por motoristas de ônibus urbano que atuam em grandes cidades.
Design/metodologia/abordagem: Foi conduzida uma pesquisa de natureza qualitativa com a participação de 22 motoristas de uma empresa de ônibus do município do Rio de Janeiro. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas semiestruturadas e examinados por meio de análise de conteúdo, com apoio do software Atlas.ti.
Resultados: Os resultados mostraram que a remuneração, considerada relativamente elevada para o nível de escolaridade exigido, e o prazer de dirigir são os principais aspectos que conferem sentido ao trabalho. Além disso, observou-se que o trabalho tem alta centralidade, mas é menos importante do que a família para a maioria dos participantes. Também foram identificadas diferenças entre motoristas maduros e jovens. Apesar de todos afirmarem que gostam da profissão, os maduros demonstram gostar mais do trabalho e se sentem mais reconhecidos, quando comparados aos mais jovens.
Implicações práticas: Como contribuição prática, os resultados podem orientar o desenvolvimento de políticas e práticas de gestão de pessoas que promovam uma experiência de trabalho mais positiva.
Implicações teóricas: A pesquisa contribui para a literatura nacional sobre sentidos do trabalho, ao trazer as perspectivas de motoristas de ônibus, grupo relativamente pouco pesquisado.
Limitações: A pesquisa contou com a participação de motoristas da mesma empresa, aspecto que pode ter limitado uma maior diversidade de perspectivas.
Originalidade/valor: O presente estudo preenche uma lacuna nos estudos nacionais sobre sentidos do trabalho, usualmente focados em profissões de maior status social.
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