O ANTIJESUITISMO NO SÉCULO XVIII: uma análise do verbete jésuite da Encyclopédie iluminista
Published date: 14/07/2011
Este texto apresenta uma discussão acerca do sentimento antijesuítico presente no pensamento Iluminista a partir da análise do verbete jésuite da Enciclopédia organizada e dirigida por Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d’Alembert (1717-1783). Nesse verbete se verifica a personificação de ardis, falsidades e mentiras na figura dos membros da Companhia de Jesus. Os pensadores iluministas foram representantes das idéias que no final do século seriam o sustentáculo para a revolução burguesa na França. A Ilustração, entre outras idéias, defendia a laicização do Estado e de todas as suas instituições. Nascida na França, essa corrente foi rapidamente e amplamente difundida por toda a Europa. No tocante à educação formal, o ataque mais direto foi à Companhia de Jesus, Ordem que mais dirigia colégios na Europa naquele momento, e que, por essa razão, ainda exercia forte influência na formação dos quadros da elite européia, além de ter ampla atuação nas colônias Ibéricas. Tão logo foi fundada em 1539, e aprovada pela bula papal Regimini Militantis Ecclesiae, de 1540, a Companhia de Jesus se destacou por sua empreitada educacional. Nesse sentido, o ensino oferecido pelos jesuítas, bem como seu método de ensino, foi amplamente atacado pelos iluministas, dando início a uma vertente designada de antijesutismo. Essa vertente pode ser definida como os sentimentos, conceitos e escritos abertamente contrários à Companhia de Jesus. Teve início com os pregadores protestantes alemães no século XVI, perpassando o lançamento em 1614 da Monita Secreta, do polonês Hieronim Zahorowski, e reforçada no século XVIII quando a Companhia de Jesus foi expulsa do Reino Português (1759) e sua extinta pelo papado em 1773. Foi nesse século que houve na Europa altercações acaloradas, tanto no meio intelectual quanto político, sobre a atuação dos padres jesuítas. Os ataques se intensificaram no século XIX, capitaneados pelos Revolucionários (ou simpatizantes da Revolução) após a Restauração da monarquia na França e pelos positivistas. Ecos do antijesuitismo de extração positivista podem ser encontrados na maior parte dos manuais de história da educação e também na historiografia brasileira. Ao analisar o verbete da Enciclopédia serão consideradas determinações mais amplas, uma vez que a disputa entre esses dois projetos pedagógicos – iluminista e jesuítico - representa a luta pelo domínio na forma de pensar a sociedade, a economia, a política e a cultura nesse século.