DESCONSTRUINDO O NAÃF: A PINTURA DE ALCIDES PEREIRA DOS SANTOS
Published date: 06/11/2012
É lugar-comum na história e na crítica de arte, antes de qualquer análise mais consistente da produção de um artista originário das classes populares, na maioria das vezes, autodidata, classificá-lo como primitivista ou naïf (entre outras designações similares). Temos que essa categorização, longe de ser um indicativo de sua poética ou a que grupo ou movimento se vincularia pelas proximidades temáticas ou estilísticas (como ocorre no circuito oficial da arte), funciona como um indicador social, um signo de procedência. Ao modo do que ocorre com o saber, identificamos nesse procedimento a perpetuação de um dispositivo de colonialidade que, de uma só vez, entroniza a estética ocidental e a arte produzida sob sua chancela como o modelo a ser seguido e desqualifica toda a experiência aesthésica que não se ofereça à conceitualização nos termos ocidentais. Visando desconstruir as categorias apresentamos o caso singular da obra do artista plástico brasileiro Alcides Pereira dos Santos (Rui Barbosa BA 1932 – São Paulo SP 2001). Em linhas gerais, pode-se dizer que as poucas descrições, opiniões e discursos até agora proferidos sobre ele contribuíram e reforçaram a ideia de que sua pintura é resultado da prática ingênua do que se vê e se olha. Neste caso, ela se prestaria apenas a reproduzir uma realidade. No entanto, ainda que Alcides pareça não recusar o paradigma da representação e a relação entre modelo e cópia que este pressupõe, sua figuração opera uma desconstrução na medida em que os meios de criação tornam-se fins, fazendo com que sua imagem produza um mimetismo que destrói o modelo ao invés de preservá-lo.