Neste artigo, apresento um recorte da etnografia realizada sobre relações interétnicas com um grupo de pessoas que se autodeclaram afro-indígena, em Caravelas, BA e pertence ao Movimento Arte Manha, criado em 1988, com objetivo de luta e resistência negra e indígena. Nele, procuro descrever o lugar da arte, corpo e memória afro-indígena no movimento e na escola, tratando de redes de sociabilidades, “encontros” e zonas de contato. A escolha do tema, como recorte para este trabalho, é o fato de que o grupo trouxe provocações, quando traz repertórios sócio-históricos de suas culturas de origem, a valorização das africanidades do legado africano e a cultura indígena e, por meio de estratégias, se apropria da arte, do corpo e da memória (BOSI,1994) como instrumentos de luta, resistência e práticas educativas. É assim que os afro-indígenas de Caravelas conduzem as teias da memória e a construção de um passado que, por sua vez, é também fruto de criação e de novas experiências subjetivas e afro-indígenas, focando o corpo como centro das políticas, no sentido de (des)racializar e pluralizar espaços sociais, arte, objetos e coisas e traçam esse percurso em busca da memória e da ancestralidade. Na escola, as ações dependem da “necessidade” do grupo, chamadas de interdisciplinares, como entalhe em madeira, desenhos, danças africanas indígenas, roda de conversa para discutir modos de vida afro-indígena. E a escola é espaço privilegiado à realização de ações artístico-culturais. O espaço de trocas de saberes e conhecimentos se estabeleciam entre os participantes de modo transversal.
A CONTRAPONTOS é uma publicação reconhecida pela área da Educação, seriada, arbitrada e dirigida prioritariamente a uma comunidade acadêmico-científica. Vem circulando nacionalmente desde 2001.