• Resumo

    A IMAGEM DO CORPO KAINGANG NOS CORAN-BANG-RÊ NO SÉCULO XVIII

    Data de publicação: 07/03/2021
    O presente trabalho provém dos resultados obtidos durante a pesquisa de dissertação, a qual se debruçou em compreender a constituição de uma série de documentações iconográficas que retrataram um dos primeiros contatos registrados entre as populações indígenas Kaingang com os colonizadores, as quais estão localizadas no atual estado do Paraná. Portanto, objetiva-se analisar os delineamentos compositivos do corpo Kaingang traçados na sequência de 40 iconografias atribuídas ao engenheiro militar Joaquim José de Miranda no século XVIII, encomendadas para retratar a décima expedição militar ao mando da Coroa de Portugal aos sertões do Campos de Guarapuava nos anos de 1771-1772, com o desígnio de levantar estratégias para ocupar esta região. Tendo em vista que na vasta produção iconográfica sobre os indígenas no Brasil há poucos materiais que apresentam o registro histórico sobre os Kaingang no processo de colonização do Estado do Paraná, as questões norteadoras do respectivo trabalho consistem: Quais os interesses políticos e econômicos da colônia que impulsionaram a construção iconográfica corporal desta população? De que maneira o fog (não indígena ruim na língua Kaingang) produziu a imagem do corpo Kaingang no século XVIII, como ponto de fronteira no centro da dinâmica do contato e quais de tantos ângulos da história as imagens contam? Para a compreensão de tais problematizações, realiza-se uma análise documental pautada nas determinações materiais historicamente situadas na condição de produção das iconografias, assim se busca o diálogo entre os conhecimentos da área de Artes Visuais e Educação Física, por meio de aproximações entre os estudos da imagem e da sociologia do corpo. Em diálogo com a hermenêutica, interpretam-se as ilustrações fundadas no método iconológico desenvolvido pelo historiador de arte Erwin Panofsky (1892-1968), com a proposta de reconstrução do modo de produção do contexto histórico das imagens em três níveis de análise. Com as investigações, foi possível constatar que o corpo indígena situado nas relações de poder recebeu uma atenção especial dos colonizadores, visando a suas características e potencialidades a seu favor desde os primeiros contatos entre estas populações no século XVI. Na dada conjuntura, o corpo Kaingang no século XVIII, além de ser ponto de fronteira das relações de contato entre militares e Kaingang, foi visualizado como ponto de estratégia bélica para ser utilizado conforme os interesses coloniais deste período. As imagens a respeito deste corpo foram produzidas a partir da lógica militar, no momento em que a imagem era concebida como um meio de se projetar algo, isto é, os traçados e os riscos eram designados a um intuito, ocorrendo uma estreita relação entre o desenho e os interesses políticos. Perante a estas considerações, esta pesquisa constitui uma parte da história iconográfica do corpo Kaingang, auxiliando na compreensão histórica e nas demandas educacionais a respeito desta conjuntura.

Revista Contrapontos

A CONTRAPONTOS é uma publicação reconhecida pela área da Educação, seriada, arbitrada e dirigida prioritariamente a uma comunidade acadêmico-científica. Vem circulando nacionalmente desde 2001.

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