• Resumo

    “UM MASSACRE SILENCIOSO QUE CONTINUA”: UM OLHAR CRIMINOLÓGICO SOBRE OS DANOS SOCIAIS CAUSADOS PELO AMIANTO

    Data de publicação: 08/08/2019

    O Brasil foi, até novembro de 2017, o terceiro maior exportador e consumidor de amianto no mundo, apesar de a comprovação do caráter cancerígeno da fibra ter pelo menos cinquenta anos. O banimento na Europa leva as empresas a funcionarem onde o lobby encontre Estados suscetíveis ao argumento econômico em detrimento da saúde pública. Neste trabalho, trago os resultados de uma pesquisa de campo sobre o processo de vitimização pelo amianto na cidade de Casale Monferrato, primeira a bani-lo na Itália. Considerando o caráter sui generis do caso, e com o objetivo de compreender a experiência da vitimização e a passagem do dano individual à luta coletiva, apresento a análise de uma das entrevistas em profundidade realizada na cidade, além de alguns dos resultados da observação participante. Inicialmente, apresento o marco teórico criminológico crítico, sob o enfoque dos crimes dos poderosos e do dano social, além de expor o histórico da Eternit de Casale Monferrato. Na segunda, exponho as reflexões metodológicas, além de analisar uma das entrevistas realizadas. As conclusões apontam para uma ponte epistemológica construída entre os níveis micro e macro de análise a partir do campo, demonstrando sua importância política na visibilização dos danos e da luta social contra o poderio de grandes corporações.

  • Referências

    ALVESALO, A.; TOMBS, S. Working for criminalization of economic offending: contradictions for

    critical criminology? Critical criminology, n. 11, p. 21-40, 2002. DOI: 10.1023/A:1021126217510.

    ALTOPIEDI, R. Un caso di criminalità d’impresa: l’Eternit di Casale Monferrato. Torino: L’Harmattan

    Italia, 2011.

    ASSOCIAZIONE FAMILIARE VITTIME AMIANTO. Storia dell’amianto e nascita dell’Eternit.

    Disponível em: <http://www.afeva.it/files/storiaeternit.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2016.

    BARAK, G. On the visibility and neutralization of the crimes of the powerful and their victims. In:

    ______ (ed.). The Routledge International Handbook of the Crimes of the Powerful. New York:

    Routledge, 2015.

    BARAK, G. The Crimes of the Powerful and the Globalization of Crime. Revista Brasileira de

    Direito, 11(2): 104-114, jul.-dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.18256/2238-0604/revistadedireito.

    v11n2p104-114.

    BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. Rio de Janeiro: Revan,

    BECKER, H. S. Whose Side Are We On? Social Problems, Vol. 14, No. 3, pp. 239-247, 1967. DOI:

    2307/799147.

    BECKER, H. S. A epistemologia da pesquisa qualitativa. Revista de Estudos Empíricos em Direito,

    vol. 1, n. 2, p. 184-198, jul 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.19092/reed.v1i2.18.

    BEIRNE, P; SOUTH, N. Issues in Green Criminology: confronting harms against environments,

    humanity and other animals. New York: Routledge, 2013.

    BERNAL, C. E. ; CABEZAS, S. ; FORERO, A.; RIVERA, I.; VIDAL, I. Un debate epistemológico sobre

    el daño social, los crímenes internacionales y los delitos de los mercados. In: RIVERA, I. (Coord.).

    Delitos de los Estados, de los Mercados y daño social. Barcelona: Anthropos, 2014.

    BOCKING, S. Nature’s Experts: Science, Politics, and the Environment. New Brunswick/New

    Jersey/London: Rutgers University Press, 2004.

    BRAMBILLA, M; MOSSANO, S. Morire d’amianto. Il caso Eternit: la fabbrica, le vittime, la giustizia.

    Torino: La Stampa, 2012.

    BRUM, E. Romana e o bilionário do amianto: a dor que não prescreve. Coluna. El país, 24 nov.

    Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2014/11/ 24/opinion/1416832282_033103.

    html>. Acesso em: 25 nov. 2014.

    BUDÓ, M de N. Danos silenciados: a banalidade do mal no discurso científico sobre o Amianto.

    Revista Brasileira de Direito, v.12, n. 1, p. 127-140, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.18256/2238-

    /revistadedireito.v12n1p127-140.

    BUDÓ, M de N. O caso do amianto no Brasil sob a ótica da criminologia: invisibilidade e dano

    social. In: TRINDADE, André Karam; ESPINDOLA, Angela Araujo da Silveira; BOFF, Salete Oro.

    Direito, Democracia e Sustentabilidade. Passo Fundo: IMED, 2015. p. 253-286.

    CULLEN, M. R. The Amphibole Hypothesis of Asbestos-Related Cancer: Gone but Not Forgotten.

    American Journal of Public Health, Editorials, Annotations, and Topics, vol. 86, No.2., p. 158-159,

    February 1996. DOI: 10.2105/AJPH.86.2.158.

    DAVIES, P.; FRANCIS, P.; WYATT, T. (orgs.). Invisible Crimes and Social Harms. London: Palgrave,

    FRIEDRICHS, D. O. Crimes of the powerful and the definition of crime. In: BARAK, G. (ed.). The

    Routledge International Handbook of the Crimes of the Powerful. New York: Routledge,

    p. 39-49.

    GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

    HARDING, S. A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista. Revista de Estudos

    Feministas, Florianópolis, v.1, n. 1, p.7-31, 1993.

    HILLYARD, P.; TOMBS, S. Beyond criminology? In: HILLYARD, P. et al. Beyond Criminology: Taking

    Harm Seriously. London: Pluto Press, 2004.

    KARAM, M. L. A esquerda punitiva. Discursos sediciosos: crime, direito e sociedade, ano 1, n. 1,

    p. 79-92.

    KARAM, Maria Lúcia. Utopia transformadora e abolição do sistema penal. In: PASSETTI, Edson;

    SILVA, Roberto B. Dias da. Conversações abolicionistas: uma crítica do sistema penal e da

    sociedade punitiva. São Paulo: IBCCRIM, 1997. p. 67-84.

    LEVI, P. Il sistema periodico. Torino: ET Scrittori, 1994.

    LILIENFELD, D. E. The Silence: The Asbestos Industry and Early Occupational Cancer Research-A

    Case Study. American Journal of Public Health, June 1991, Vol. 81, No. 6, P. 791-800. Available

    in: <http://ajph.aphapublications.org/ doi/pdf/10.2105/AJPH.81.6.791>. Access on 01 sep. 2015.

    LUCE ARCHIVIO. Amianto, come veniva lavorato a Casale Monferrato. Disponível em:

    www.youtube.com/watch?v=UQuejd5PXU0>. Acesso em: 19 jan. 2016.

    MAGNANI et al. Pleural maligant mesotelhioma and non-ocupational exposure to asbestos in

    Casale Monferato, Italy. Occupational and Environmental Medicine, n. 52. p. 362-367, 1995.

    McCULLOCH, J; TWEEDALE, G. Defending the indefensible: The Global Asbestos Industry and its

    Fight for Survival. Oxford: Oxford, 2008.

    MENDES, R. Asbesto (amianto) e doença: revisão do conhecimento científico e fundamentação

    para uma urgente mudança da atual política brasileira sobre a questão. Cad. Saúde Pública, Rio

    de Janeiro, 17(1):7-29, jan-fev, 2001.

    MINAYO, M. C. de S (org.); DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa social: Teoria, método e

    criatividade. Petrópolis: Vozes, 2009.

    MUNCIE, J. Decriminalising Criminology. The British Criminology Conference: Selected

    Proceedings. v. 3. Papers from the British Society of Criminology Conference, Liverpool, July 1999.

    Editors: George Mair and Roger Tarling.

    NATALI, L. Criminology, victimización medioambiental y social harm - El caso de Huelva (España).

    Revista Crítica Penal y Poder. OSPDH, n. 7, pp. 5-34, set. 2014.

    NATALI, L. Green criminology: Prostettive emergenti sui crimini ambientali. Torino: G.

    Giapichelli, 2015.

    PESCE, B. Prefazione. In: IOCCA, G. Casale Monferrato: la polvere che uccide. Roma: Ediesse,

    POUPART, J. A entrevista de tipo qualitativo: considerações epistemológicas, teóricas e

    metodológicas. In: POUPART, J.; DESLAURIERS, J-P; GROULX, L-H.; LAPERRIÈRE, A.; MAYER,

    R; PIRES, Á. (orgs.). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos.

    Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 215-253.

    ROSSI, G. La lana dela salamandra: la vera storia della strage dell’amianto a Casale Monferrato.

    Roma: Ediesse, 2010.

    RUFF, K. Exporting Harm: How Canada Markets Asbestos to the Developing World. Ottawa:

    Rideau Institute, 2008.

    SCHWENDINGER, H.; SCHWENDINGER, J. Defensores da ordem ou guardiães dos direitos

    humanos? In: TAYLOR, I; WALTON, P; YOUNG, J. Criminologia crítica. Rio de Janeiro: Graal,

    p.113-134.

    SILVA, M. B. de O. Crise ecológica e crise(s) do capitalismo: o suporte da teoria marxista para

    a explicação da crise ambiental. Direito e realidade, v. 1, n. 2, 2011.

    STRAUSS, A; CORBIN, J. Bases de la investigación cualitativa. Técnicas y procedimientos

    para desarrollar la teoría fundamentada. Medelín: Universidad de Antioquia, 2002.

    SUTHERLAND, Edwin H. White Collar Criminality, American Sociological Review, v. 5, n. 1,

    Feb. 1940, p. 1-12.

    TOMBS, S.; WHYTE, D. The corporate criminal. London/New York. Routledge, 2015.

    WORLD HEALTH ORGANIZATION. Chrysotile Asbestos. October 2014. Disponível em:

    www.who.int/ipcs/assessment/public_health/chrysotile_ asbestos_summary.pdf>. Acesso em: 15

    jan. 2016.

Novos Estudos Jurí­dicos

A revista Novos Estudo Jurídicos (NEJ), Qualis A1 Direito, é um periódico científico quadrimestral, com publicações ininterruptas desde 1995, nos meses de Abril, Agosto e Dezembro. Sua missão é promover o aprimoramento dos estudos na área do Direito, especialmente nas seguintes linhas: “Constitucionalismo e Produção do Direito”, “Direito, Jurisdição e Inteligência Artificial” e “Direito Ambiental, Transnacionalidade e Sustentabilidade”.

A NEJ é um dos periódicos científicos da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e está vinculado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI (conceito CAPES 6), cursos de Mestrado e Doutorado.

O periódico oferece acesso livre e imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior democratização mundial do conhecimento. 

A visão da revista Novos Estudo Jurídicos (NEJ) consiste na publicação de artigos e relatos de pesquisas inéditos de autoria de docentes, discentes e pesquisadores, estimulando os debates críticos e éticos sobre assuntos relacionados aos temas que compõem sua Linha Editorial.

Access journal